Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos, Jorge Moreira da Silva.
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Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos, Jorge Moreira da Silva.

Assuntos da ONU

Novo diretor-executivo do Escritório da ONU para Serviços de Projetos, Jorge Moreira da Silva, fala ao Podcast ONU News sobre reformas na agência e parcerias cruciais para o cumprimento da Agenda 2030; alguns dos mil projetos anuais do Unops estão em países como Brasil, Moçambique, Cabo Verde e Timor-Leste. 

O mundo está na Década de Ação para acelerar a implementação da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. O peso da infraestrutura é fundamental nos esforços para se atingir as metas acordadas em 2015 pelos 193 países-membros da ONU.  

A declaração é do novo diretor-executivo do Escritório da ONU para Serviços de  Projetos, Unops, Jorge Moreira da Silva. Há 100 dias no posto, ele lidera uma reforma administrativa na agência e prepara a execução da Estratégia 2022-2025 com um plano de ação. 

Descarbonização justa, inclusiva e acessível 

Nesta entrevista ao Podcast ONU News, o ex-ministro do Ambiente de Portugal, cita a urgência de se avançar com esforços nos setores público e privado. Atualmente, Moreira da Silva coordena mil projetos de geração da infraestrutura necessária para o cumprimento dos ODS. https://news.un.org/pt/media/oembed?url=https%3A//www.youtube.com/watch%3Fv%3DpnzjtfesG3E&max_width=0&max_height=0&hash=bdYnUO5uooIv6xwY02fwg7KE-9o61np9hmaT-N2JH0A

“92% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, portanto os 17 Objetivos e das 169 metas, 92% dependem de infraestruturação para poderem ser cumpridos. O que significa que, se fizermos infraestruturação certa, descarbonizando, tornando-a mais justa, mais inclusiva, mais acessível, podemos cumprir os ODS. Se continuarmos num cenário de continuidade de hoje, não cumpriremos os ODS. O segundo exemplo é nas alterações climáticas. 82% das atuais emissões estão relacionadas com as infraestruturas. Portanto, ou nós mudamos de vida, na forma como construímos, como nos deslocamos, como consumimos e produzimos energia, ou não cumpriremos o Acordo de Paris.” 

Mobilizar financiamento 

Conhecida com a parte prática na construção de infraestrutura, o Unops atua com o Banco Mundial e outras organizações, sempre em parceria com os governos, mas não desenha nenhum projeto. A agência se concentra na execução de planos que já foram traçados pelos governos nacionais, como diz o diretor-executivo Jorge Moreira da Silva. 

“Ora, a Unops é a agência que trata das operações. No fundo, é o braço das Nações Unidas para a implementação, para a concretização, para o fazer acontecer. E, portanto, eu depois destes anos todos de trabalho, de serviço público, a desenhar políticas, a mobilizar financiamento, tinha muita vontade de estar no terreno a fazer acontecer porque os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o Acordo de Paris, dependem de política, dependem de financiamento, mas, no final do dia, dependem de capacidade para concretizar. E a verdade é que, na maior parte das vezes, nessas cimeiras internacionais, na discussão política, nós gastamos a maior parte do nosso tempo a falar do financing gap, da lacuna de financiamento, das reformas políticas, mas muito pouco tempo a perceber o que é preciso fazer, em termos de assistência técnica, de capacidade para concretizar projetos na saúde, na educação, na habitação, nos transportes, na energia, no fundo em todas as áreas. E o Unops é a agência que trata dessa capacidade prática, muito prática, de concretização.” 

Um exercício de mapeamento comunitário ocorre na aldeia de Kalapur, na Índia, como parte de um projeto para melhorar o acesso à água.

© UNOPS/John Rae Um exercício de mapeamento comunitário ocorre na aldeia de Kalapur, na Índia, como parte de um projeto para melhorar o acesso à água.

Uma das metas da agência da ONU é incentivar e apoiar economias locais como parte do desenvolvimento. Por isso, metade das compras públicas ou de licitações de um projeto capitaneado pelo Unops tem de ser feita no próprio país. 

“Nós queremos, com isso, criar contextos locais de desenvolvimento empresarial. Esse é um exemplo concreto. Outro exemplo em África é Moçambique. Já não é apenas desenvolvimento é também humanitário. Nós sabemos que, em Cabo Delgado, em consequência das ameaças que existem muito sérias à segurança, deu origem a um enorme fluxo de migrantes internos, de migrações forçadas no país. É uma zona muito instável que continua com níveis de instabilidade muito grandes. O Banco Mundial atribuiu-nos 200 milhões de euros ao Unops para fazermos um conjunto de projetos em Cabo Delgado que são em simultâneo desenvolvimento e humanitário.” 

Ao ser perguntado sobre os desafios do Unops, nos últimos anos, após atravessar uma fase de escândalos de corrupção, e antes de sua chegada ao posto, onde cumpriu 100 dias de trabalho, Jorge Moreira da Silva garante que a página foi virada e que o foco da direção da agência agora é no futuro. 

O UNOPS concluiu obras de infraestrutura prioritárias na Costa Rica, como a Rotunda das Garantias Sociais, que é uma das mais emblemáticas.

Presidência da Costa Rica O UNOPS concluiu obras de infraestrutura prioritárias na Costa Rica, como a Rotunda das Garantias Sociais, que é uma das mais emblemáticas.

“O Conselho Executivo tem 36 países. E todos os meses, literalmente todos os meses, apresento os resultados das reformas que fiz no mês anterior. E eu julgo que neste momento, já viramos a página. Por quê? Porque neste momento, o plano não está terminado, ainda temos metade do plano para concretizar. São reformas internas. Mas o nível de cumprimento é tão positivo, que os países hoje estão interessados em saber o que nós vamos fazer no futuro. Por isso, consegui ver aprovado, há um mês, o Plano Estratégico para 2025, que nos faz centrar a nossa ação nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”  

Antes de chegar ao Unops, Moreira da Silva era professor visitante de Engenharia da Universidade do Porto. Tem um currículo extenso com passagens pela Organização para Segurança e Cooperação da Europa, Ocde, pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento, Pnud, e também pelo próprio governo de Portugal, onde foi ministro do Ambiente. Além disso, ele foi deputado no Parlamento do país e deputado do Parlamento Europeu, para o qual foi eleito com 28 anos. Exatamente 10 anos após liderar um protesto na escola secundária, como contou ao ser perguntado sobre o início na política. 

“Eu nasci para a política pelo meio ambiente. Quando tinha 17 anos, liderava a minha Associação de Estudantes na Escola Secundária. Era secretário-geral da Associação de Estudantes numa escola que tinha ao lado uma fábrica que produzia imensa poluição. Era uma fundição. E um dia, juntei milhares de alunos e fizemos um abaixo-assinado e levei ao presidente da Câmara para que a fábrica tivesse que ou encerrar, ou deslocar-se, ou pelo menos ter horários de funcionamento do forno mais compatíveis com os nossos tempos livres quando saímos para o recreio. (Isso foi em 1988). E, portanto, o meu primeiro envolvimento na política é por via do movimento associativo estudantil e de uma mobilização ambiental. Bom, passados poucos meses, acabei por me inscrever na juventude partidária da minha afinidade. Mais tarde, tornei-me líder nacional desta juventude partidária, da JST, aliás fazendo uma oposição feroz ao atual secretário-geral das Nações Unidas quer era primeiro-ministro. Portanto, o mundo é muito pequeno. Eu como líder juvenil da minha juventude partidária, liderava o movimento de contestação, natural, num espaço público, ao então primeiro-ministro que era de um outro partido político. E veja bem, como o mundo dá tantas voltas? Hoje, estou colaborando diretamente com o secretário-geral, e como o maior gosto, António Guterres.” 

Jorge Moreira da Silva tem um mandato inicial de dois anos à frente do Unops. A agência tem sede em Copenhague, na Dinamarca. 

Fonte: ONU NEWS

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