Como mostra um relatório publicado pelo UNICEF, a pandemia de COVID-19 cobrou e continuará a cobrar um preço alto para a saúde mental de crianças, adolescentes e jovens em todo o mundo.

O estudo aponta para a persistência das lacunas entre as necessidades de saúde mental e o financiamento de políticas voltadas à área, uma vez que somente cerca de 2% dos orçamentos governamentais de saúde são alocados para gastos com saúde mental.

Segundo as últimas estimativas disponíveis, globalmente mais de um em cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos vive com algum transtorno mental diagnosticado.

Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano. É uma das cinco principais causas de morte na faixa etária.

Novas análises indicam que transtornos mentais entre jovens acarretam uma redução de contribuição para a economia de quase 390 bilhões de dólares por ano.

No Brasil, 22% dos adolescentes e jovens de 15 a 24 anos entrevistados dizem que muitas vezes se sentem deprimidos ou têm pouco interesse em fazer coisas.

Legenda: Crianças brincando na Síria, em 2020

Foto: © Ahmed Saleh/UNICEF

Crianças, adolescentes e jovens podem vir a sentir o impacto da pandemia de COVID-19 em sua saúde mental e bem-estar por muitos anos, alertou hoje o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A informação é do relatório Situação Mundial da Infância 2021, publicado hoje (6) pela organização. De acordo com o estudo (disponível em inglês), mesmo antes da pandemia, crianças, adolescentes e jovens carregavam o fardo das condições de saúde mental sem investimentos significativos, uma vez que somente cerca de 2% dos orçamentos governamentais de saúde são alocados para gastos com saúde mental em todo o mundo. 

Segundo as últimas estimativas disponíveis, globalmente mais de um em cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos vivem com algum transtorno mental diagnosticado. Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano. É uma das cinco principais causas de morte na faixa etária.

“Foram longos, longos 18 meses para todos nós – especialmente para as crianças e adolescentes. Com lockdowns nacionais e restrições de movimento relacionados à pandemia, as meninas e os meninos passaram anos indeléveis de sua vida longe da família, de amigos, das salas de aula, das brincadeiras – elementos-chave da infância”, disse a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore.

“O impacto é significativo e é apenas a ponta do iceberg. Mesmo antes da pandemia, muitas crianças estavam sobrecarregadas com o peso de problemas de saúde mental não resolvidos. Muito pouco investimento está sendo feito pelos governos para atender a essas necessidades críticas. Não está sendo dada importância suficiente à relação entre a saúde mental e os resultados futuros na vida”, concluiu a diretora.

Peso da pandemia –  Como mostram os indicadores reunidos pelo fundo da ONU, a pandemia cobrou seu preço. De acordo com resultados preliminares de uma pesquisa internacional com crianças e adultos em 21 países conduzida pelo UNICEF e o Gallup – que tem uma prévia apresentada neste relatório Situação Mundial da Infância 2021 –, em média um em cada cinco adolescentes e jovens de 15 a 24 anos entrevistados (19%) disse que, muitas vezes, se sente deprimido ou tem pouco interesse em fazer coisas.

Enquanto a COVID-19 está perto de chegar a seu terceiro ano, o impacto sobre a saúde mental e o bem-estar de crianças e jovens continua pesando muito. Segundo os últimos dados disponíveis do UNICEF, globalmente, pelo menos uma em cada sete crianças foi diretamente afetada por lockdowns, enquanto mais de 1,6 bilhão de crianças sofreram alguma perda relacionada à educação. A ruptura com as rotinas, educação, recreação e a preocupação com a renda familiar e com a saúde estão deixando muitos jovens com medo, irritados e preocupados com o futuro. Por exemplo, uma pesquisa online na China no início de 2020 (citada no relatório Situação Mundial da Infância 2021) indicou que cerca de um terço dos entrevistados relatou sentir medo ou ansiedade.

Custo social – Transtornos mentais diagnosticados como TDAH, ansiedade, autismo, transtorno bipolar, transtorno de conduta, depressão, transtornos alimentares, deficiência intelectual e esquizofrenia – podem prejudicar significativamente a saúde, a educação, as conquistas e a capacidade financeira de crianças, adolescentes e jovens no futuro.

Embora o impacto na vida dos jovens seja incalculável, uma nova análise da London School of Economics, incluída no relatório, estima que transtornos mentais que levam jovens à incapacidade ou à morte acarreta uma redução de contribuições para as economias de quase US $390 bilhões por ano.

Fatores de proteção – O relatório observa que uma mistura de fatores molda e afeta a saúde mental das crianças ao longo da vida. Eles são genéticos, de experiência e ambientais desde os primeiros dias, incluindo parentalidade, escolaridade, qualidade dos relacionamentos, exposição a violência ou abuso, discriminação, pobreza, crises humanitárias e emergências de saúde, como a COVID-19.

Embora fatores de proteção, como cuidadores amorosos, ambientes escolares seguros e relacionamentos positivos com colegas, possam ajudar a reduzir o risco de transtornos mentais, o relatório alerta que barreiras significativas, incluindo estigma e falta de financiamento, estão impedindo que muitas crianças tenham uma saúde mental positiva ou acessem o apoio de que precisam.

O relatório Situação Mundial da Infância 2021 pede que governos e parceiros dos setores público e privado se comprometam, comuniquem e ajam para promover a saúde mental de todas as crianças, todos os adolescentes e cuidadores, proteger os que precisam de ajuda e cuidar dos mais vulneráveis.

Confira as principais recomendações do UNICEF:

Investimento urgente em saúde mental de crianças e adolescentes em todos os setores, não apenas na saúde, para apoiar uma abordagem intersetorial, incluindo toda a sociedade para prevenção, promoção e cuidados.  

Investir em serviços públicos de qualidade – integração e ampliação de intervenções baseadas em evidências nos setores de saúde, educação e proteção social – incluindo programas parentais que promovem cuidados responsivos e de atenção integral, e garantia de que as escolas apoiem a saúde mental por meio de serviços de qualidade e relacionamentos positivos. 

Preparar pais, familiares, cuidadores e educadores para abordar o tema da saúde mental como parte da saúde integral.  

Quebrar o silêncio em torno da saúde mental, fomentar a cultura da escuta sem julgamentos – escuta empática – promovendo uma melhor compreensão da saúde mental e levando a sério as experiências de crianças, adolescentes e jovens.  

Valorizar a rede de apoio entre pares – promovendo e valorizando esse diálogo entre os próprios adolescentes sobre saúde mental.

“A saúde mental faz parte da saúde física – não podemos continuar a vê-la de outra forma”, disse Fore, diretor do UNICEF. “Por muito tempo, em países ricos e pobres, temos visto muito pouco entendimento e muito pouco investimento em um elemento crítico para maximizar o potencial de cada criança. Isso precisa mudar”.

Cenário brasileiro – O Brasil foi um dos 21 países que participou da pesquisa conduzida pelo UNICEF e o Gallup, que tem uma prévia apresentada neste relatório Situação Mundial da Infância 2021. Os dados mostram que 22% dos adolescentes e jovens de 15 a 24 anos brasileiros entrevistados dizem que muitas vezes se sentem deprimidos ou têm pouco interesse em fazer coisas. 

Para contribuir com a mudança desse cenário, o UNICEF lançou, no Brasil, o programa Pode Falar. Trata-se de um canal de ajuda virtual para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. A iniciativa foi criada em parceria com diversas organizações da sociedade civil e empresas com expertise na área, e funciona de forma anônima e gratuita por meio de um chatbot que pode ser acessado no site pode falar.org.br.

Mais sobre o relatório –  As estimativas das causas de morte entre adolescentes são baseadas em dados da Estimativas Globais de Saúde 2019, da Organização Mundial da Saúde (OMS). As estimativas sobre a prevalência de transtornos mentais diagnosticados baseiam-se no Estudo de Carga Global de Doenças de 2019, do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME).

Os resultados da pesquisa sobre sentimentos de depressão ou ter pouco interesse em fazer coisas são parte de um estudo maior conduzido em conjunto entre o UNICEF e o Gallup para explorar a divisão intergeracional. O projeto Changing Childhood entrevistou aproximadamente 20 mil pessoas por telefone em 21 países. \

Todas as amostras são baseadas em probabilidade e nacionalmente representativas de duas populações distintas em cada país: pessoas de 15 a 24 anos e pessoas de 40 anos ou mais. A área de cobertura é todo o país, incluindo áreas rurais, e a base de amostragem representa toda a população civil, não institucionalizada, dentro de cada corte de idade com acesso a um telefone. As conclusões completas do projeto serão divulgadas pelo UNICEF em novembro.

Fonte: ONU Brasil

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