Uma reunião por videoconferência reuniu nesta terça-feira, dia 22/07, representantes do Serviço Geológico do Brasil (SGM-CPRM), Marinha do Brasil e Ministério de Minas e Energia (MME) para debater novos projetos e programas a serem desenvolvidos visando ampliar o conhecimento da geologia do solo e subsolo marinhos sob jurisdição brasileira e em águas internacionais adjacentes do país.

O encontro marcou o processo de reestruturação da Geologia Marinha no âmbito do Serviço Geológico do Brasil, pontuado pelo presidente do SGB, Esteves Pedro Colnago: “Em função da importância da Geologia Marinha para o Serviço Geológico do Brasil e para o próprio país, esse programa estará ligado ao Cedes e ao Complexo Laboratorial e Museológico da Urca e diretamente à Presidência, para que as ações sejam tomadas de forma mais estratégica e para dar mais vigor para produção de informações geológicas oceânicas fundamentais para o Brasil. Estamos promovendo uma união de esforços para tornar a Geologia Marinha um programa vitorioso da população brasileira.”

Sob essa nova coordenação, coube ao chefe do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (Cedes), Noevaldo Teixeira, apresentar à Marinha do Brasil proposta para intensificar a parceria entre as instituições, em conjunto com a Petrobras e ANP, para os próximos três anos.

Inicialmente, destacou-se a importância da Geologia Marinha do SGB-CPRM por meio das conquistas efetivadas nos últimos anos de intenso trabalho, obtidas conjuntamente com a Marinha do Brasil, como o contrato de exploração de Crostas Ferromanganesíferas em Cobalto na Elevação do Rio Grande (ERG) firmado com a Autoridade Internacional de Fundos Marinhos (ISBA) e os subsídios técnicos e jurídicos para a extensão da margem oriental à Comissão de Limites da Plataforma Continental junto à ONU e para submissão à ONU incorporando a Elevação do Rio Grande à plataforma brasileira.

Noevaldo ressaltou que a preocupação estratégica em ter acesso aos recursos marinhos em qualquer país do mundo é liderada pelos seus Serviços Geológicos nacionais, como ocorre em mais de 160 países. Para ele, compartilhar com a Marinha uma visão estratégica de nação para o suprimento das matérias primas para o país é um pilar de atuação do SGB. “O valor anual da economia dos oceanos gira em torno de 2,5 trilhões de dólares, portanto, a explotação de recursos naturais dos oceanos não será mais uma opção, mas uma imposição da nossa civilização, e coloca a Geologia Marinha como prioridade para o SGB”, apontou.

Entre os objetivos fundamentais da Geologia Marinha no SGB destaca-se como principal tarefa e missão a produção de mapas geológicos, prospectivos, biológicos e químicos do território marinho (Amazônia Azul) em parceria com a Marinha do Brasil. Outro ponto fundamental é atrelar o conhecimento geológico à biologia, além de indicar os locais com maior favorabilidade para investimentos privados na chamada Blue Economy.

Diretor-presidente da CPRM, Esteves Pedro Colnago, abriu o encontro que apresentou a reestruturação da Geologia Marinha no SGB

ECONOMIA AZUL – No mundo todo, os investimentos do setor privado na busca de depósitos minerais seguiam uma tendência de que quanto mais dinheiro se investia em exploração, mais minério era descoberto. A partir de 2015, houve uma mudança no cenário. Embora uma significativa soma de recursos tenha sido aplicada para prospecção mineral o número de descobertas tem sido progressivamente menor, mais profundas e mais difíceis de serem viabilizadas economicamente. Na última década, foram gastos 198 bilhões procurando minério e obtidos apenas 109 bilhões como resultado.

“Apesar da queda nas descobertas minerais no continente, o mundo registra uma demanda de minerais e elementos químicos como cobalto, germânio, gálio, cobre, telúrio, níquel crescente para as próximas décadas. Especialmente metais ligados à economia verde, ou economia sustentável. Energia eólica, solar, carros elétricos são vorazes consumidores de metais, embora muitos ambientalistas desconheçam esse aspecto. Essa indústria verde depende da descoberta de mais minérios, que por sua vez exige novas fronteiras exploratórias. Ou seja, as atividades econômicas no oceano são inevitáveis para o desenvolvimento de qualquer nação do planeta”, explicou.

Hoje mais de 90% da produção nacional de óleo gás vem de ambiente marinho particularmente do pré-sal. No cenário mundial, verifica-se centenas de áreas de prospecção mineral no mar, sendo que no Pacífico existem depósitos de sulfetos polimetálicos já em fase de produção. Esse potencial contrasta com as descobertas minerais no continente em número muito pequeno nos últimos 10 anos, sendo que no Brasil não temos registro de nenhuma descoberta na última década.

Representantes da Marinha e do MME acompanham a apresentação do mapa com a localização dos projetos da Geologia Marinha da CPRM no Atlântico Sul e Equatorial

PROJETOS PRIORITÁRIOS – Após destacar resultados efetivos dos projetos do SGB em Geologia Marinha, como o reconhecimento e identificação de recursos minerais marinhos em 30 mil km² da plataforma continental brasileira (10% da área total), Noevaldo defendeu a reavaliação de alguns projetos e elencou outros prioritários, cujos trabalhos técnicos ou prospectivos subsidiam decisões estratégicas. Entre eles, manter e fortalecer o fornecimento de todas as informações geológicas prospectivas para que os pleitos estratégicos a nível internacional do Brasil sejam atendidos.

Outro compromisso que vai nortear a proposição a ser feita à Marinha no curto prazo é o mapeamento sistemático, biogeológico e de prospectividade mineral de toda a área oceânica em escala de 1:500 mil, disponibilizando informações fundamentais para tomada de decisões para investimentos visando o desenvolvimento da Amazônia Azul.

O aspecto ambiental foi sublinhado pelo chefe das pesquisas em Geologia Marinha da CPRM, Eugênio Frazão. “É importante salientar a questão sustentável dos projetos. Enquanto a mineração no continente tem sofrido com a questão dos impactos ambientais, os estudos dos recursos minerais tanto na Amazônia Azul como em águas internacionais realizados pelo SGB-CPRM estão comprometidos também com o meio ambiente e todos terão selo verde, por meio de projetos preocupados com as questões ambientais e de biotecnologia. Portanto, partimos da premissa que só podemos preservar o que conhecemos e por isso é importante a elaboração de estudos da construção da linha de base ambiental em ambientes marinhos, para que tenhamos projetos de exploração de recursos minerais marinhos sustentáveis”, salientou.

O chefe do Cedes pontou ainda as dificuldades orçamentárias que impactam nos resultados do programa de Geologia Marinha do SGB. Uma das consequências se observa na média anual de apenas 43 dias em que os pesquisadores estão no mar. “Uma realidade que precisa mudar. Precisamos mais interlocução com a área econômica, mostrar que a potencialidade da economia azul é real”, afirmou.

Por fim, Noevaldo falou sobre a revitalização do prédio histórico da Urca, que se tornará um moderno complexo laboratorial de Isotopia e Geocronologia, juntamente com a Litoteca Nacional do Pré-Sal. Os laboratórios de Microbiologia e Micropaleontologia, Petrografia estarão ligados ao Museu de Ciências da Terra. Noevaldo ressaltou a importância de aumentar a participação anual do SGB no navio Vital de Oliveira, que se tornará pela proposta apresentada uma extensão laboratorial das pesquisas marinhas nos laboratórios de Isotopia e Geocronologia.

MARINHA DO BRASIL – Para o Diretor-Geral da Navegação (DGN) da Marinha do Brasil, Almirante de Esquadra Marcelo Francisco Campos, a mentalidade marítima, conceito que a Marinha do Brasil procura difundir no país está representada na estrutura e essência da proposta apresentada pelo SGB. “A mentalidade marítima busca fortalecer o nosso poder marítimo e a geologia marinha faz parte do nosso poder marítimo”, comentou. Para ele, a construção da Geologia Marinha em um espectro maior se relacionando com várias vertentes, como da ciência e tecnologia, desenvolvimento econômico, da qualificação acadêmica e da Defesa e Segurança é importantíssima.

O almirante destacou a preocupação com a presença de outros países no Atlântico Sul com interesses ligados às nossas riquezas marinhas, citando o trecho da apresentação que mostrou várias áreas em torno da Amazônia Azul com domínio do Reino Unido. “Essa reestruturação mostra a importância da Geologia Marinha. Nós não temos dúvida que o futuro está no mar. As tecnologias disruptivas, ditas tecnologias verdes, que estão nascendo vão depender de minérios. Muita gente acha que a floresta amazônica é o pulmão do mundo, quando na verdade são os oceanos. A mentalidade marítima tem que estar na escola. Vejo uma oportunidade de expandir esse conhecimento e levar adiante esse grande projeto de extrema importância para o nosso país”, declarou.

O Secretário da Comissão Interministerial de Recursos Marinhos (CIRM), Contra-Almirante Cesar Antônio Rocha Martins, afirmou que a iniciativa do programa de Geologia Marinha do SGB reforça o trabalho no âmbito da CIRM, que funciona como um colegiado de 15 membros, com a coordenação da Marinha. “Trata-se de um espaço de articulação, gestão de projetos, que envolvem múltiplos atores. Pretendemos trazer à discussão da Economia Azul, o desenvolvimento sustentável do aproveitamento dos recursos do mar. A CIRM está totalmente à disposição para que a gente internalize essa discussão, fomente essa parceria”.

Com relação ao fomento da pesquisa oceanográfica geológica em relação à disponibilização de plataformas, adiantou que está sendo elaborado o programa Pro Amazônia Azul para alocar pelo menos dois navios hidroceanográficos para as pesquisas oceânicas. “O Vital de Oliveira tem vocação para a Geologia Marinha e se encaixa perfeitamente com a proposta de ser uma extensão do laboratório a ser criado no âmbito do SGB. Já o Pro Amazônia Azul pode atender projetos da Geologia Marinha e projetos de biotecnologia, oceanografia biológica, química e física”, relatou.

A próxima reunião da CIRM ocorrerá no dia 30 de julho e vai debater o 10° Plano Setorial Para os Recursos do Mar (PSRM), que abrange programa com o Remplac e o Proarea, com atuação do SGB.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA – O diretor de Geologia e Produção Mineral do MME, Frederico Bedran, destacou como oportuna a reestruturação no âmbito SGB, em que foi elevada a importância da Geologia Marinha. “Este é um momento único em termos políticos e estratégicos. “O nosso ministro de Minas e Energia conhece o mar, veio da Marinha, o que aumenta nossa sinergia nas relações do MME com a Marinha do Brasil”.

Destacou ainda como importante olhar para o imenso território que foi agregado ao país para iniciar novas pesquisas visando comprovar cada vez mais que esta extensão de fato é um território brasileiro. “Nesse contexto, a expertise do SGB é uma oportunidade enorme para avançarmos. A CPRM foi fundamental nos últimos anos para trazer elementos técnicos que subsidiassem toda a nossa estratégia política internacional e assim continuará fazendo agora com mais expertise, mais dados técnicos, com robusto laboratório que vai fortalecer ainda mais a nossa atuação no campo geopolítico internacional”, finalizou.

Fonte: Serviço Geológico do Brasil

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