Parques eólicos foram construídos em alto mar

País tem maior potencial de energia eólica em alto-mar do mundo; professor e pesquisador Alexander Turra participa da 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas e defende mais investimentos em economia azul; para ele, COP30, no Brasil, será oportunidade para “unir Amazônia Verde e Amazônia Azul”.  

Oceanos saudáveis podem ajudar a conter a crise climática, proteger cidades costeiras de desastres e criar oportunidades econômicas de cerca de US$ 15,5 trilhões até 2050.

A 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que começa nesta segunda-feira, em Nice, na França, pretende reforçar estratégias para proteger os mares de ameaças como poluição, pesca excessiva e aquecimento global.

Potencial de energia eólica no Brasil

A ONU News conversou com o professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, USP, Alexander Turra, que está em Nice. Ele destaca que o oceano pode favorecer a transição energética, necessária para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.

“Quando a gente fala de energia eólica ou de outras energias limpas ou renováveis associadas ao oceano, a gente tem aí uma oportunidade gigantesca de fazer a transição para uma economia de baixo carbono, deixando de explorar petróleo ou deixando de explorar gás e carvão. E nesse sentido, a gente pode então olhar o oceano como esse grande trunfo que a gente tem nessa transição. Por outro lado, ele vem sofrendo e esse sofrimento que ele vem tendo, ele acaba sendo transposto para a gente, A gente sofre junto. Então, os eventos extremos que têm aumentado em magnitude e em frequência vêm causando mortes nas zonas costeiras dos diferentes países, especialmente em camadas mais vulneráveis da população, que estão nas encostas ou nas palafitas”.

Turra que lidera a Cátedra sobre Sustentabilidade do Oceano da Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura, Unesco, afirmou que o Brasil é o país que tem o maior potencial de geração de energia eólica em alto-mar.

Ele atua no aprimoramento da avaliação de impacto ambiental dessa alternativa energética, buscando caminhos para maximizar benefícios e minimizar prejuízos.

Amazônia Azul

O pesquisador é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. Segundo ele, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontece no Brasil em novembro, será crucial para enfatizar as relações entre oceano e clima.

Turra destacou que os ecossistemas da zona costeira do país equivalem a uma “Amazônia Azul”, e precisam ser valorizados.

“O oceano está no meio dessa discussão e a COP30 em Belém é o lugar perfeito para que a gente consiga unir a Amazônia Verde e a Amazônia Azul num diálogo integrado, para que a gente jamais deixe de considerar essa relação intrínseca e indissociável entre oceano e clima”.

Fortalecimento da economia azul

A conferência em Nice enfatiza o crescimento e diversificação da “economia azul” como forma de estabelecer um uso sustentável dos mares. Turra acredita que o Brasil precisa garantir investimentos para fortalecer o setor.

“O Brasil, assim como o mundo de uma forma geral, está acordando e está despertando para esse universo que a gente tem chamado de economia azul. Tradicionalmente, a gente fala de alguns setores, como a pesca, exploração de óleo, gás, a mineração, a navegação. Mas a gente está falando de uma variedade gigantesca de oportunidades de diálogo com recursos e benefícios que o oceano nos provê. E aqui, na Conferência do Oceano, na Zona Verde, existe um pavilhão dedicado a startups do mundo inteiro. Esse pavilhão juntou, agregou 1 mil startups. Temos inclusive startups brasileiras aqui, como o ‘Ilha Hub’, trazendo inovações e arranjos interessantes que estão fazendo com que aconteça essa emergência da economia azul no país”.

O especialista alertou que muitas dessas oportunidades econômicas estão ligadas aos esportes e ao turismo e podem ser prejudicadas com a tendência de degradação dos mares e aumento da poluição.

Uma equipe de mergulhadores científicos avalia a biodiversidade marinha no topo de um monte submarino em Porto Santo, Madeira, Portugal

Nuno Vasco Rodrigues/UN World Oceans Day 2023 Uma equipe de mergulhadores científicos avalia a biodiversidade marinha no topo de um monte submarino em Porto Santo, Madeira, Portugal

Mineração no fundo do mar

declaração final do encontro em Nice toca num tema que também coloca em risco a sustentabilidade dos oceanos, a mineração no fundo do mar.

O professor brasileiro ressaltou que o ambiente marinho é muito frágil e demora muito tempo para se recuperar de impactos. Nesse sentido, o pesquisador defende a suspensão de atividades mineradoras, para que seja possível acumular mais conhecimento sobre os ecossistemas encontrados na parte mais profunda dos oceanos.

“A mineração de mar profundo. Ela é uma atividade bastante controversa porque ela está amparada ou está alicerçada em muitas incertezas. E é por isso que vários países, incluindo o Brasil, defendem o que se chama de pausa de precaução. Não é bem uma moratória, mas é uma pausa de dez anos para que a gente consiga avançar no nosso conhecimento. E é tão gritante o nosso desconhecimento desses ambientes que no ano passado, em 2024, se descobriu um fenômeno que foi batizado de oxigênio negro, porque ele está sendo gerado na escuridão, sem a presença de luz, por um processo físico que a gente aprende na escola, que é a eletrólise”.

Alexander Turra ressaltou a preocupação com a “pressão da indústria de alta tecnologia”, como os celulares, que demandam produtos minerais de altíssimo valor encontrados a mais de 3 ou 4 mil metros de profundidades, em locais como a elevação do Rio Grande, ao largo do Estado de São Paulo.

Ele mencionou ainda sulfetos poli metálicos que estão associados a vulcões que pararam de funcionar e estão presentes na costa de São Paulo e perto do Arquipélago de Fernando de Noronha, no Brasil.

Para Turra, as duas primeiras conferências dos oceanos tiveram um papel de mobilizar a comunidade internacional, mas essa 3ª precisa fazer o mundo “sair do discurso e ir para a prática” na corrida para salvar os oceanos.

*Felipe de Carvalho é redator da ONU News Português.

Fonte: ONU NEWS

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