O jovem economista Eduardo Ávila, um das finalistas do prêmio Jovens Campeões da Terra, desenvolveu o projeto ‘Revolusolar’ a fim de amenizar questões como serviços de energia caros, não confiáveis e de baixa qualidade nas favelas Babilônia e Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro.

Utilizando energia solar fotovoltaica, o Revolusolar estabeleceu parceria com as duas comunidades para cocriar um novo modelo de energia acessível, sustentável e alinhado às tradições de ação coletiva e autogestão desses territórios. A solução inclui instalações solares, treinamento profissional para residentes e oficinas para crianças sobre sustentabilidade.

Veja a entrevista que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) fez com Eduardo Ávila.

O projeto ‘Revolusolar’ prevê instalações solares, treinamento profissional para residentes e oficinas para crianças sobre sustentabilidade.

Foto | Revolusolar

O jovem economista Eduardo Ávila desenvolveu o projeto ‘Revolusolar’ a fim de amenizar questões como serviços de energia caros, não confiáveis e de baixa qualidade nas favelas Babilônia e Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro.

Além disso, o projeto está implementando a primeira cooperativa solar em uma favela. O financiamento é feito por patrocinadores institucionais e um componente de aluguel: os beneficiários de energia solar pagam uma taxa mensal, parte da economia com a conta de luz.

Eduardo Ávila é um das finalistas do prêmio Jovens Campeões da Terra e conversou com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)  sobre a Revolusolar e sobre modelos de energia sustentável baseados em comunidade.

PNUMA: O que o inspirou a trabalhar com energia sustentável?

Sou economista formado pela UFRJ e estudo a transição energética, energias renováveis, e, principalmente, mecanismos financeiros de modelos de negócios e o que faz com que esses mecanismos sejam difundidos.

Ao mesmo tempo em que estudava, via aqui ao lado o território das favelas Chapéu Mangueira e Babilônia, que sofrem com problemas de infraestrutura de energia, uma situação de desigualdade muito forte. O problema de acesso à energia elétrica e toda essa questão problemática de energia é uma barreira para o desenvolvimento.

PNUMA: Como foi criado o Revolusolar? Por que adotar uma abordagem voltada para as favelas?

O Revolusolar foi criado em 2015, a partir da junção do movimento de dois grupos: lideranças comunitárias das duas favelas que percebiam a problemática histórica do acesso à energia; e empreendedores do setor acadêmico e do setor privado, que estão percebendo a evolução da energia solar fotovoltaica, que é cada vez mais viável financeiramente no Brasil.

Existe uma visão de que na favela só tem “gato” de energia e ligações clandestinas, mas é um mito. A maioria dos moradores paga energia e paga mais caro por ela. Proporcionalmente em relação ao orçamento, paga mais caro e ainda sofre com problemas de acessibilidade, quando há falhas no serviço e aciona o atendimento.

PNUMA: Quais são as oportunidades e os desafios de trabalhar com modelos de energia sustentável na favela?

A primeira oportunidade na favela é em relação à redução de despesas com energia. Temos um cenário no Brasil em que a energia é a quinta mais cara do mundo. O Rio de Janeiro tem uma das energias mais caras do Brasil. O custo da energia teve um aumento de 105% na última década, mas custos de energia solar caíram 75%. Ou seja, você tem uma energia que é cada vez mais cara e outra que é cada vez mais barata, gerando a oportunidade de reduzir a despesa dessa população.

Uma segunda oportunidade é a geração de empregos. A energia solar fotovoltaica é a que mais gera emprego. A geração distribuída faz com que empregos sejam gerados na própria comunidade, empregos locais e de qualidade. A terceira, é a promoção de conscientização das pessoas e das comunidades. Além do impacto que as hidros e termoelétricas causam, fazendo do setor de energias o principal gerador de mudanças climáticas, elas ficam longe das pessoas e das comunidades. Não conseguimos nos sentir protagonistas desse setor.

O modelo de geração distribuída permite que as pessoas sejam envolvidas, faz com que as pessoas se conscientizem mais sobre sustentabilidade e energia renovável. Você se sente mais culpado gastando energia quando você produz sua própria energia. A gente dá mais valor para energia e a eficiência energética.

Em relação aos desafios, o principal é o financiamento. Estamos tentando modelos filantrópicos, mas são modelos que no Brasil exigem investimentos altos.

PNUMA: Como você imagina o futuro e os desafios do projeto?

Muita gente pergunta sobre replicação do projeto, nossa resposta em relação ao futuro é que desenhamos esse modelo de energia solar para ser replicado, não só no Rio, mas no Brasil, e até estamos sonhando com a América Latina. Mas, neste momento, estamos 100% focados na próxima fase do projeto que é a criação da cooperativa no Rio.

Desde 2015, estamos atuando pelo desenvolvimento sustentável na favela. Temos três frentes: a frente de instalações de energia solar; a frente de capacitação de moradores eletricista, são eles que fazem a instalação; e a frente de capacitação infantil de energia solar e sustentabilidade. Adotamos a metodologia de ciclo solar, os serviços de manutenção são feitos pelos eletricistas capacitados para manutenção e eles também são monitores da capacitação infantil.

Fazemos instalações individuais de energia solar, para autoconsumo local, mas percebemos que para replicar existiam muitas barreiras técnicas e econômicas. A maioria das casas demanda reforço de estrutura, que é caro. Além disso, tem a questão do sombreamento de árvores, do morro, construções ao lado. É difícil para uma família reunir sozinha condições econômicas que fazem a instalação individual viável.

Por essas limitações, estamos adotando o modelo de cooperativa, juntando pessoas ou comércios. Vamos utilizar um telhado da associação de moradores para energia solar, beneficiando cerca de 30 famílias cooperadas nessas duas comunidades. Com esse projeto-piloto, queremos validar indicadores, avaliar a sustentabilidade de indicadores, e fazer ajustes nos modelos no curto prazo.

PNUMA: Que conselho você daria para jovens que também querem enfrentar desafios ambientais?

Que se inspirem em técnicas, conhecimentos e soluções que o mundo vem desenvolvendo nos últimos anos, mas que também estejam conectados às necessidades e tradições locais dos seus territórios. Que comecem pequeno, deem o primeiro passo, em comunidades no seu entorno. Validem as hipóteses centrais com projetos-piloto e depois repliquem.

Fonte: ONU Brasil

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *