Novo relatório da agência meteorológica das Nações Unidas, a OMM, revela dados alarmantes sobre eventos climáticos no continente asiático em 2020. O relatório Estado do Clima na Ásia 2020 faz parte de uma série que precede a COP26.

O documento aponta que a Ásia regrediu no que diz respeito à Ação Climática, Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 13, na maioria de suas sub-regiões.

Com impactos na vida humana, no meio ambiente e na economia, os extremos climáticos na Ásia preocupam as autoridades da ONU por causarem deslocamentos prolongados, aumento nos níveis de insegurança alimentar, temperaturas e no nível do mar, degelo de geleiras, queda no PIB, bem como perda efetiva de horas de trabalho no continente.

Bairro afetado por enchentes em Jacarta, Indonésia

Bairro afetado por enchentes em Jacarta, Indonésia
Legenda: Bairro afetado por enchentes em Jacarta, Indonésia
Foto: © Arimacs Wilander/UNICEF

Na Ásia, as mudanças climáticas mataram milhares, deslocaram outros milhões e custaram bilhões só em 2020, é o que revela o novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) intitulado o Estado do Clima na Ásia 2020.

O evento de lançamento do relatório aconteceu na terça-feira (26) e reuniu organizações científicas internacionais e regionais, escritórios operacionais, formuladores de políticas e tomadores de decisão, parceiros de desenvolvimento, serviços meteorológicos e hidrológicos nacionais e negociadores do clima. As partes interessadas refletiram sobre a necessidade de uma ação climática urgente na Ásia em busca de coordenação e implementação de estruturas estratégicas relacionadas ao clima no continente.

O chefe da OMM, Petteri Taalas, em seu discurso de lançamento do relatório, disse que os extremos climáticos e meteorológicos “têm um impacto significativo no desenvolvimento sustentável de longo prazo e no progresso em direção à Agenda 2030 da ONU e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em particular”.

Impactos na vida humana – O relatório apresentou um dado esperançoso, no ano passado inundações e tempestades afetaram aproximadamente 50 milhões de pessoas na Ásia e resultaram em mais de 5 mil mortes. O número está abaixo da média anual das últimas duas décadas (158 milhões de pessoas afetadas e cerca de 15 mil mortes) e é um testemunho do sucesso dos sistemas de alerta precoce em muitos países da Ásia.

Entretanto, ciclones intensos, chuvas de monções e inundações atingiram áreas altamente expostas e densamente povoadas no Sul da Ásia e no Leste Asiático e levaram ao deslocamento milhões de pessoas na China, Bangladesh, Índia, Japão, Paquistão, Nepal e Vietnã. Só como resultado do ciclone Amphan, de maio de 2020, 2,4 milhões foram deslocados na Índia e 2,5 milhões em Bangladesh.

Muitos deslocamentos climáticos no continente são prolongados, com pessoas incapazes de voltar para casa, se integrar localmente ou se estabelecer em outro lugar.

O progresso na segurança alimentar e nutricional desacelerou. O relatório estima que, em 2020, 48,8 milhões de pessoas no Sudeste Asiático, 305,7 milhões no Sul da Ásia e 42,3 milhões na Ásia Ocidental estejam subnutridas. A Ásia abriga mais da metade do total de subnutridos no mundo.

“Riscos climáticos e meteorológicos, especialmente inundações, tempestades e secas, tiveram impactos significativos em muitos países da região, afetando a agricultura e a segurança alimentar, contribuindo para o aumento do deslocamento e vulnerabilidade de migrantes, refugiados e pessoas deslocadas, agravando os riscos à saúde, e agravando as questões ambientais e as perdas de ecossistemas naturais ”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

Perdas econômicas – Os custos de eventos extremos estão aumentando, aponta o relatório, em parte devido ao aumento da exposição. Uma grande proporção das infraestruturas críticas existentes está em pontos críticos de risco irreparável, o que pode levar a uma interrupção significativa da atividade econômica quando ocorrem desastres naturais. Por exemplo, cerca de um terço das usinas de energia, redes de cabos de fibra óptica e aeroportos e 42% da infraestrutura rodoviária estão em pontos de acesso de risco de diversos perigos na Ásia-Pacífico.

Os dados presentes na publicação também indicam que ciclones tropicais, inundações e secas induziram uma perda média anual estimada de várias centenas de bilhões de dólares, de acordo com a Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico (UNESCAP). As perdas foram estimadas em aproximadamente 238 bilhões de dólares na China, 87 bilhões na Índia e 83 bilhões no Japão.

Quando o Produto Interno Bruto (PIB) é considerado, a perda média anual deve chegar a 7,9% do PIB (7,5 bilhões de dólares) no Tajiquistão, 5,9% do PIB (24,5 bilhões) no Camboja e 5,8% do PIB (7,9 bilhões) na República Democrática Popular do Laos.

Além disso, o aumento de temperaturas e umidade relativa do ar podem levar a uma perda efetiva de horas de trabalho ao ar livre, colocando em média entre 2,8 trilhões e 4,7 trilhões de dólares do PIB anual da Ásia em risco até 2050. Portanto, é importante investir na adaptação climática, que oferece alto retorno e múltiplos benefícios econômicos.

Enchente na província de Guangdond, China

enchente na província de Guangdond, China
Legenda: Rio na província de Guangdond, China. Além de perdas econômicas, enchentes também trazem riscos de afogamentos
Foto: © Jéan Béller/Unsplash

O meio ambiente também sofreu –  O ano de 2020 foi o mais quente já registrado no continente. Na cidade de Verkhoyansk, na Rússia, por exemplo, os termômetros atingiram 38°C, a temperatura mais alta já registrada no norte do Círculo Polar Ártico.

Sobre o nível do mar, o relatório confirma que a média global de aumento tem sido de 3,3 mm por ano, mas no Oceano Índico e noroeste do Oceano Pacífico, o nível do mar tem aumentando muito mais.

A extensão mínima do gelo marinho do Ártico (após o derretimento do verão) em 2020 foi a segunda mais baixa no registro de satélite desde 1979. Os mares da Eurásia e a Rota do Mar do Norte estavam completamente livres de gelo no verão.

O recuo das geleiras está se acelerando e projeta-se que a massa das geleiras diminuirá de 20% a 40% até 2050, afetando a vida e o sustento de cerca de 750 milhões de pessoas na região. Isso tem ramificações importantes para o nível do mar global, ciclos de água regionais e perigos locais (como deslizamentos de terra e avalanches).

As altas montanhas da Ásia abrigam aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados de geleiras localizadas no Planalto Tibetano e no Himalaia. O continente contém os maiores volumes de gelo fora das regiões polares e é a fonte de 10 importantes rios asiáticos.

Em países como o Afeganistão, o degelo glacial tem sido historicamente essencial para manter o abastecimento de água em tempos de seca e, portanto, a redução projetada no escoamento glacial tem implicações importantes para a segurança hídrica e também para os ecossistemas.

Recomendações – Os dados devastadores do documento revelam que a Ásia regrediu em relação ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 13 (Ação Climática) na maioria de suas sub-regiões, em vários graus. A região provavelmente não vai alcançar os ODS, a menos que os esforços sejam acelerados para construir resiliência.

“Menos de 10% das metas dos ODS estão em vias de serem alcançadas até 2030. O mais alarmante são as tendências regressivas na ação climática e na vida marinha: ambas relacionadas à resiliência a desastres”, disse a secretária executiva da UNESCAP, Armida Salsiah Alisjahbana, no lançamento do documento.

O relatório regional temático indica, entre as suas recomendações, a necessidade de adaptar e construir resiliência, especialmente em partes da região de alto risco e baixa capacidade. Isso requer uma melhor compreensão dos riscos, investimento em energia renovável e tecnologias de ponta, saúde, meio ambiente, proteção social e garantia de gastos fiscais direcionados.

Gastar com adaptação climática é um investimento de alto retorno com vários benefícios socioeconômicos, assinala o documento. É necessário uma ampliação das estratégias de cooperação regional e sub-regional que integrem desastres, incluindo desastres relacionados ao clima e saúde de forma associada, para complementar os esforços nacionais e implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Sobre o relatório – O relatório é um produto colaborativo da Organização Meteorológica Mundial (OMM), incluindo a Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico (UNESCAP) e a Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental (UNSCWA), especialistas do clima, economia e política da Ásia, bem como instituições internacionais científicas e técnicas. Ele fornece um quadro geral das tendências climáticas, condições meteorológicas extremas, riscos e impactos associados nos principais setores sensíveis.

Cobrindo todo o continente, o documento revela que todas as partes da Ásia foram afetadas, dos picos do Himalaia às áreas costeiras baixas, de cidades densamente povoadas aos desertos, do Ártico aos mares da Arábia. Além disso, aponta lições para a ação climática na Ásia e identifica caminhos para abordar lacunas e desafios críticos.

Ele foi publicado antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP26, e é parte de uma série de análises regionais lançada para informar os tomadores de decisão e políticos, bem como direcionar os investimentos regionais e nacionais. Dados alarmantes e outros relatórios sobre a temática já foram divulgados sobre América Latina e Caribe, e também sobre o continente africano.

O relatório O Estado do Clima na Ásia pode ser acessado na íntegra em sua página web interativa, clicando aqui.

Fonte: ONU Brasil

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