IBGE trouxe observadores internacionais para acompanhar a coleta do Censo 2022 – Foto: Jessica Cândido/Agência IBGE Notícias

A coleta do Censo 2022 seguia, na tarde do dia 19 setembro, no bairro Peró, em Cabo Frio (RJ), um dos principais destinos turísticos do estado, com os recenseadores batendo de porta em porta para preencher os questionários com os moradores. Mas comentários em francês quebravam a normalidade operação. Eles vinham do senegalês Jean Pierre Bahoum, um dos participantes do Observa Censo 2022, e logo eram traduzidos por Jocelyn Vincent Freulon, como esse: “algo que me chama atenção é a adesão das pessoas, a sensibilização com o Censo”, destacou o observador.

Concebido pelo IBGE em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o projeto teve como objetivo trazer observadores de diversos países para acompanhar os trabalhos do Censo Demográfico brasileiro por uma semana, durante o processo de coleta de dados. Essa foi mais uma ação de transparência e compartilhamento de experiências, metodologias, novas tecnologias e boas práticas que vêm sendo desenvolvidas pelo IBGE ao longo dos anos.

Divididos por cinco unidades da federação, os observadores internacionais visitaram Belo Horizonte (MG) – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe; Cabo Frio (RJ) – Bahamas, Belize, Senegal, Sudão e Trinidad e Tobago; Florianópolis (SC) – Chile, Peru e Uruguai; Recife (PE) – Colômbia, Equador, México, República Dominicana e Honduras; e Boa Vista e Pacaraima (RR) – representantes dos órgãos internacionais CEPAL, ACNUR, OIM e UNICEF.

“A ideia desse projeto é promover uma interação e mostrar aos observadores internacionais como é o modo de trabalhar do IBGE. Mostrar nossa técnica, nossa tecnologia ao realizar o Censo, para que eles consigam desenvolver um bom trabalho em seus países de origem”, explica o superintendente do IBGE no Rio de Janeiro, José Francisco Teixeira Carvalho.

O senegalês Jean Pierre, devidamente trajado com colete e crachá do IBGE, destaca como o processo de preparação está ajudando na pesquisa. “O principal objetivo dessa visita ao Brasil é ver como se faz o Censo aqui, quais são as práticas de como a pesquisa é feita em outros países e levar esse conhecimento de volta. O IBGE faz um trabalho excelente e dá pra ver que houve uma etapa de preparação. Quando os recenseadores chegam às casas, é perceptível que já existe muita informação sobre a pesquisa”, analisa o observador africano.

O grupo de observadores em Cabo Frio foi composto por representantes de Senegal, Trinidad e Tobago, Belize, Bahamas e Sudão, além dos tradutores. Na parte da manhã, todos se reuniram no auditório da Escola Municipal Alfredo Castro, um dos locais utilizados no treinamento dos recenseadores na cidade, para apresentações sobre a operação censitária – desde a estrutura física necessária até o recrutamento e treinamento, incluindo questionários, metodologias e tecnologias inovadoras utilizadas neste Censo.

Após as palestras, os participantes foram divididos por quatro setores censitários pela região, urbanos e rurais, para acompanhar o processo de coleta, as tecnologias utilizadas e perceber como o IBGE tem sido recebido pelos brasileiros.

“Em nosso próximo censo utilizaremos pela primeira vez o sistema de entrevistas pessoais com o auxílio de dispositivo móvel. É um novo foco para nós, portanto, um de nossos principais objetivos nessa visita é ver como a coleta com o dispositivo funciona. Temos observado também maneiras diferentes de conduzir a pesquisa, por exemplo, o número de retornos aos domicílios é quatro, enquanto o nosso é dois ou três, então estamos observando e aprendendo novas metodologias e maneiras de realizar uma pesquisa censitária”, avalia Nalini Inga Bahadoorsingh, representante de Trinidad e Tobago.

Para o recenseador Rodrigo Dumacy, que foi observado durante as entrevistas no bairro Peró, onde também mora, a visita foi uma boa surpresa e tem ajudado a explicar a relevância da pesquisa para o país.

“Essa visita dos observadores a Cabo Frio tem sido muito boa. Até na hora de entrevistar as pessoas, quando explico que são pessoas de outros países observando o Censo, elas percebem ainda mais a importância da pesquisa e da resposta ao questionário”, relatou Rodrigo.

Os observadores receberam um conjunto de uniforme dos recenseadores, com colete, crachá, boné e bolsa, e presenciaram o processo de coleta, acompanhando o funcionamento do Dispositivo Móvel de Coleta (DMC) e o processo de supervisão da operação em postos de coleta. A ideia foi apresentar as diversas realidades enfrentadas pela operação censitária, com setores urbanos e rurais, assim como localidades com peculiaridades como Cabo Frio, local onde existem muitas casas de veraneio, e como funcionam os procedimentos do IBGE para realizar a pesquisa.

Florianópolis recebeu representantes do Chile, Peru e Uruguai

Na estada em Florianópolis, com o típico tempo instável da ilha nesta época do ano entre dias de chuva e sol, brisa e vento, todas as tardes os observadores do Chile, Peru e Uruguai foram a campo acompanhar a equipe de coleta em regiões de diferentes características geográficas e níveis socioeconômicos.

Na segunda-feira, 19 de setembro, os visitantes iniciaram pela região do Centro; na terça, percorreram morros íngremes na Lagoa da Conceição e comunidades pesqueiras da praia da Barra da Lagoa; na quarta, estiveram no Porto da Lagoa; na quinta, no bairro do Itacorubi, próximo à região universitária; e na sexta-feira, finalizaram as visitas no aglomerado subnormal do Morro do Mocotó, tendo ao fundo uma das mais belas vistas da capital.

O grupo aprendeu a utilizar o DMC e acompanhou os recenseadores em cada detalhe que envolve a coleta domiciliar, especialmente os desafios pelos quais a equipe passa – de casas vazias e muitos “nãos” a boas recepções, incluindo um churrasco de boas-vindas de um morador que comemorava com amigos o dia da Revolução Farroupilha. Puderam observar também como a equipe de campo se desdobra para conseguir as entrevistas em diferentes bairros e situações.

Na quarta pela manhã, os observadores participaram de uma coletiva de imprensa e deram entrevistas às TVs locais. Todas as manhãs eles participaram ativamente de palestras com várias perguntas aos dirigentes e técnicos do Instituto, que apresentaram tópicos como: os desafios e dificuldades para realização da megaoperação; as parcerias com diversas organizações em nível nacional, estadual e local; a construção dos questionários e das classificações; a organização da base territorial do IBGE e a composição dos códigos de identificação; a estrutura montada e as tecnologias utilizadas; as etapas prévias de teste, consulta pública e os treinamentos para tratar de assuntos sensíveis; o trabalho de supervisão para conferência ou verificação, os trabalhos de comunicação e divulgação e a contratação de pessoal extra para suporte.

Dentre as semelhanças apontadas pelos visitantes com os seus países, a dificuldade de contratação de mão de obra é uma delas: “o recenseador é o coração do censo. Nós temos de cuidar, porque não podemos nos dar ao luxo de ter uma baixa contratação”, pontua Alvaro Andres Rodriguez Pacheco, chefe de TI do Censo do Instituto Nacional de Estatística do Chile. Sheyla Muller Perez, chefe técnica do censo do Chile, acrescenta: “nós também passamos por problemas com fake news e pessoas que não querem responder ao censo”.

Sobre a realidade do Peru, Nancy Aurelia Hidalgo Calle de Martell, diretora do Censo e de Pesquisas, e Juan Vera Aguilar, diretor técnico de Estatísticas, complementam: “no Censo Econômico Nacional de 2022, tivemos falta de recenseadores e alta deserção. Na formação, que estava prevista para realização de três turmas, no final tivemos que estender para oito turmas. Além disso, fake news também não faltam”.

Chile e Peru farão duas grandes mudanças quanto à metodologia e ao uso de tecnologia nos próximos censos, programados para 2024 e 2025, respectivamente. Ambos fizeram seu último recenseamento em 2017, com a chamada metodologia “del hecho” [de fato, na tradução literal]. Nessa metodologia, o país declara um dia de feriado obrigatório, em que todos os estabelecimentos fecham e as pessoas vão até os postos de coleta para responder ao Censo, semelhante ao que aqui ocorre em dia de eleição. Há uma campanha para que as pessoas evitem viajar no dia, mas oficialmente entende-se que a população é recenseada com base no lugar onde dormiu na noite anterior ao dia do Censo e não necessariamente onde reside. A outra mudança nos dois países será a inclusão do uso de tecnologia na etapa da coleta, até então feita com questionários de papel. “No Chile, estamos divulgando análises de resultados do último Censo até hoje”, explica Alvaro.

A respeito dos trabalhos no Chile, o chefe de TI do INE descreve: “nós teremos tecnologias muito semelhantes. Estamos desenvolvendo nossa plataforma de Sistema de Gestão de Censos, além do desenho e desenvolvimento de nosso questionário em todas as suas modalidades. Também teremos um sistema que nos ajudará no recrutamento e seleção de pessoas, contratação e pagamentos, plataformas de formação e enumeração, sistemas de apoio logístico. Os desafios tecnológicos de implantação são muito semelhantes, apesar das plataformas terem que gerenciar diferentes quantidades de informação, visto que o censo no Brasil tem dimensões continentais”.

Já o Uruguai, por sua vez, aplicou a metodologia do censo de direito com coleta, na última contagem, em 2011. “Tem-se constatado um grau de excelência dos aplicativos e ferramentas desenvolvidas no Brasil. Em termos de hardware, os instrumentos empregados em 2011 foram os mesmos PDAs, que foram emprestados pelo Brasil, e em 2023 serão utilizados aparelhos semelhantes aos DMCs empregados hoje aqui. Em termos de software, estamos em fase de desenvolvimento e o Brasil está incluído no processo”, explica Daniel Macadar, uruguaio, representante do Fundo de População das Nações Unidas. No próximo Censo, o Uruguai também vai experimentar uma etapa prévia de coleta pela internet, como ocorreu na Argentina, complementada por posterior ida a campo.

Sobre os ensinamentos, eles são unânimes em ressaltar a tecnologia brasileira desenvolvida. “O Brasil tem uma infraestrutura estatística muito poderosa que provavelmente é única na região da América Latina e Caribe. O profissionalismo de seu trabalho e a independência técnica de suas atividades são baluartes de sua credibilidade. Essas características devem ser consideradas lições para o restante dos INEs da região. Além disso, em cada uma das atividades censitárias, estratégias e instrumentos operacionais do censo brasileiro há lições fundamentais para a realização de qualquer censo, mesmo no mundo”, conclui o representante da ONU.

Após semana de atividades, observadores se reuniram no Rio para o encerramento

Com a presença dos representantes dos 18 países, além de representantes de organizações internacionais, foi realizado no dia 26 de setembro o evento de encerramento do Observa Censo 2022, reunindo cerca de 160 pessoas no Rio de Janeiro.

O evento contou com apresentações de representantes dos grupos que visitaram cada estado detalhando suas experiências e de diretores do IBGE, como o presidente, Eduardo Rios Neto, o diretor de Pesquisas, Cimar Azeredo, e o gerente de Relações Internacionais, Roberto Sant’Anna.

“O projeto Observa Censo configurou uma atividade muito bem-sucedida, uma vez que pôde proporcionar às instituições participantes uma oportunidade de trocar experiências e aprender fazendo. Para o IBGE, foi importante pois, mais uma vez, pudemos participar e mostrar a excelência deste instituto e também ter a oportunidade de conhecer e receber informações e experiências das instituições internacionais”, destaca Sant’Anna.

“Nós não cansamos de agradecer o apoio de agências como o UNFPA, a OIT, a ABC, a ACNUR e a OIM para a realização de um evento como esse. Esperamos ter conseguido mostrar aos observadores os avanços que tivemos com esse Censo em comparação com o Censo de 2010, sobretudo na parte tecnológica, e também a série de desafios que temos e como estamos trabalhando para superá-los”, afirma Cimar.

Fonte: Portal IBGE

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *